terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Sobre o amor...


Em alguns momentos de mudanças em nossas vidas as vezes nos fechamos para o amor e de fato houve um tempo em que me fechei totalmente para o amor, é...

Alguns meses após o acidente eu me vi unicamente parceiro de uma cadeira de rodas onde ali não caberia mais ninguém que me tomasse mais espaço, ou seja, ninguém ganharia mais o meu “coração”, tudo porque eu simplesmente que por ter me tornado um deficiente físico não encontraria uma pessoa com “amor” o bastante pra aceitar a minha nova condição de vida, minhas limitações e principalmente jamais encontraria alguém que não tivesse preconceito. Estava tão sem chão que não percebia que o preconceito era só meu naquele momento!

Na minha cabeça eu deveria me fechar para o amor, tendo a fuga como melhor solução, é....

Cheguei até a falar pra mim mesmo, “não vou me apaixonar por mais ninguém a partir de agora”, engraçado isso né? Eu achava também que não conseguiria suprir uma das necessidades de um relacionamento, satisfazer sexualmente uma mulher, acho que isso que motivou esse pensamento maluco (risos)...

A verdade é que isso tudo não durou muito tempo, logo eu me abriria novamente pro amor...

E aquele garoto que antes brincava com os sentimentos de várias adolescentes, que não sabia o significado do amor, que não dava valor a pequenos gestos que conquistam, que também não sabia que o carinho é muito mais importante do que varias outras coisas, assim como os típicos adolescentes!

Mas a duvida maior era como reagir diante das novas circunstâncias só isso que eu não sabia, então, comecei a me abrir pra algumas possibilidades...

E foi assim que logo me vi, ressurgindo das cinzas, aquele mesmo adolescente de antes do acidente com um algo a mais, “A Cadeira”, e um algo a menos, “sem o medo” refazendo os meus sonhos, namorando, terminando e reconciliando como qualquer pessoa.

Quando vi eu já estava novamente me relacionando, aquele “cadeado” que trancava o meu coração já não existia mais e sendo assim o coração enfim voltou a pulsar forte, voltou a pulsar pro amor...

Sobre o amor??????? Hummm!!! Ahhh o amor!! Foi preciso tentar entender o significado da ausência dele, para então valorizar sua presença.

A deficiência mudou muito a minha cabeça, foi preciso “cair” pra ter noção de algumas coisas, aquele amor que eu não tinha, ou se tinha não expressava, passei a ter pelas pessoas, não falo só no amor entre homem e mulher, mas também do amor em forma de amizade, infelizmente é nessas horas que enxergamos melhor as coisas, “quando estamos derrubados”, o amor ele nos aparece dia a dia de varias maneiras, através de gestos amigáveis, amorosos, simpáticos e até “calientes”, é preciso estarmos atentos aos menores gestos de amor, e não fazer com que detalhes como uma cadeira de rodas seja grande a ponto de nos deixarmos cegos para coisas tão maravilhosas que podemos viver! É preciso que tudo tenha exatamente o tamanho ideal, não colocar grande o que não precisa ser grande!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O Medo


Quando me vi nessa situação (não gosto dessa expressão) “um aleijado” depois do acidente, me perguntei bastante: como vou fazer pra fazer isso? E pra fazer aquilo? Como eu, um garoto cheio de vida, bagunceiro até demais, conseguiria suportar viver sem o futebol, sem os rolês com a galera, os namoricos... meu Deus! E o medo de enfrentar tudo? Poxa. Vou ter que sentar numa cadeira de rodas pro resto da minha vida? Aff!! Me devolve minhas pernas!!! (risos) ...

Lembro que depois de quase um mês internado, recebi a alta médica e voltei pra casa...
Fui levado de ambulância para casa. Me colocaram na minha cama, da qual por muito tempo eu não me levantaria dela. É, aquela cama que eu mal deitava pra dormir, pois não suportava ficar muito tempo parado, “coisas de moleque” (risos²), como que em um castigo eu viria a casar com ela. Dormir, acordar, permanecer nela 24 horas por dia. Totalmente dependente, eu não conseguia nem me virar de lado na cama, poxa!! Logo eu que adorava dormir de bruços e encolhido, agora pra me virar na cama preciso de ajuda? Foram muitos dias e noites de desconforto, tudo que você pensar ao ler de sofrimento, sinta-se livre para multiplicar por algumas dezenas de vezes.

Lembro também que a minha primeira reação ou atitude sei lá, foi quando minha “namoradinha” foi me visitar em casa (no hospital eu não deixei ninguém me visitar :P). Eu estava revoltado, tudo aquilo era pesado demais para mim, mesmo com o apoio da namorada, mil carinhos da parte dela que estaria ao meu lado até o fim blá blá blá... mesmo assim a minha decisão foi de terminar o namoro. Ela não aceitava o fim, dizia que me amava, que eu precisaria mais ainda da ajuda dela naquele momento. Pra que ela foi dizer aquilo? Ajuda? Aff!! Não sei como explicar, mas depois de muitos anos, vi alguns casos parecidos como o que houve comigo, essa reação de “terminar o namoro” após uma Lesão Medular.
Acho que isso se dá por conta da revolta da pessoa, imagina? ... A gente se sente incapaz de tudo, como vou fazer ela feliz? A gente não vai mais dançar!!! E o sexo? Affff, mil coisas vêm à mente, não há amor que resista a isso na nossa cabeça e, pra piorar, se a pessoa disser palavras de sentido como “ajuda” num momento como esse, é o mesmo que jogar uma bomba na discussão, pelo menos comigo foi assim :P. É claro que não é bem assim, com o tempo as coisas mudam, a cabeça da gente vai mudando, vamos nos adaptando a certas coisas, conhecendo nosso corpo, nos habituando a fazer as coisas de maneira diferente, a troca de informação entre pessoas com a mesma def. é muito importante também. A gente vê que aquele bicho de 7 cabeças não tem 7 e sim 1, ou talvez 2 por causa da cadeira kkk. Ou seja: não é tão difícil assim.

De certa forma, o que vale é a gente seguir lutando e querendo vencer, porque para se conseguir ou conquistar alguma coisa a pessoa precisa “querer”, então lute, persista. Caso não possa empurrar a cadeira, descole alguém pra empurrar pra você. Você verá que existe um mundo lá fora pronto para te abraçar. Conheça pessoas, tente alguns flertes, faça amizades, conheça novas histórias, procure por casos parecidos que, diante disso tudo, a revolta passa, o medo de experimentar coisas novas também vai embora e a gente acaba tirando o atraso. =)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Sonhos



“Oh! que saudades que tenho / Da aurora da minha vida, / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais!
Naqueles tempos ditosos / Ia colher as pitangas, / Trepava a tirar as mangas, / Brincava à beira do mar; / Rezava às Ave-Marias, / Achava o céu sempre lindo, / Adormecia sorrindo / E despertava a cantar!” (Casemiro de Abreu)

Sonhos, sempre permeiam nossas mentes e dão um gostinho especial ao nosso sono infantil, não é verdade?
Quando eu era criança (até parece que foi ontem... ohh tempo bom), costumava ter muitos sonhos. Sonhava correndo, brincando, nadando na praia, digo, levando caldo, pois eu sempre fui pequeno de estatura e mirrado de corpo (cada onda era um tombo... rss). Era impressionante, estar deitado em minha cama e tendo a sensação do movimento da água do mar em meu corpo, como se estivesse ainda dentro da água.
Sonhava caindo de um lugar muito alto, indefinido, quase infinito. Não sei quanto a vocês, mas eu dava cada pulo na cama que chegava a acordar (Puro reflexo, para se defender de um perigo imaginário). Até que um dia caí de verdade e não pude me segurar, me defender, nem pular, muito menos levantar de onde caí. E os sonhos foram ficando raros, espaçados. Hoje, digo desde que fiquei tetra, é muito difícil eu me lembrar de um sonho noturno (Se é que ainda os tenho).
Ihhh... óhh o cara aí, vai ficar se lamuriando??? Não, não! Só relatando um pouco de como era quando moleque e como é hoje, sendo um moleque em tamanho extra G (complexo de Peter Pan... rss).
Meu pai me contou que certa vez, dormindo no mesmo quarto que eu, para poder me auxiliar em algo que fosse necessário, devido eu estar passando por uma pneumonia básica (com direito a febre de 40º e delírio), ele acordou comigo resmungado uma música certa música. Segundo ele, que não entendeu nada do que eu resmungava, era uma música do Roberto Carlos (são tantas emoções... rss).
O sonho que marcou minha vida, nesses 28 anos de lesão, e que me recordo, como se estivesse acontecendo agora, se passava em um parque, muita grama verde e úmida, lindo o lugar! Eu me via andando (ehhh saudade... eu já fui bom nisso... rss), pés descalços, usava calção e camiseta (modelito verão moleque). Conforme eu andava, sentia o gramado úmido na sola de meus pés. Só quem já sentiu pode ter a real noção e sensação de como foi ótimo voltar a sentir isso, mesmo sendo a lembrança de uma sensação! (gente... bateu uma sessão nostalgia absurda agora... )
Ahhh... certa vez sonhei que ia dar um beijo na boca de uma linda mulher. Qual foi o resultado desse sonho??? Acreditem ou não, acordei de bico pronto e afiado para o tal beijo, mas sem a moça do sonho.
Fecho meus olhos e revejo o que ficou para trás, mas não me detenho muito, pois o futuro me espera, e eu escolhi ter um futuro feliz e sorridente, pois o futuro... “E o futuro é uma astronave / Que tentamos pilotar / Não tem tempo, nem piedade / Nem tem hora de chegar / Sem pedir licença / Muda a nossa vida / E depois convida / A rir ou chorar...”( Toquinho / Vinicius de Moraes / G.Morra / M.Fabrizio)