Existia uma palavra que não fazia parte do meu dia a dia. Vou contar pra vocês.
É, quando se adquire a deficiência num acidente ou algo do gênero, a gente se entrega de tal maneira que fechamos nossos olhos e assim deixamos de enxergar que existe sim uma nova maneira de se viver a vida, que os novos obstáculos que estão ali devido a deficiência são pra ser passados por cima com cadeira e tudo sabe? A gente acha que por não poder andar não podemos ser felizes, será? Infelizmente perdi anos da minha vida pensando assim também.
O fato é que tudo isso toma a cabeça da gente de uma maneira tão negativa que nos deixamos levar, perdemos muito tempo, achando isso ou aquilo, enfim, deixamos de viver conforme o novo programa, Poxa! Agora sou eu e mais uma cadeira, alguns movimentos perdidos, sem isso sem aquilo, mas, como viver dessa maneira? Eu como muitos deficientes adquiri este estágio emocional negativo, soma isso também a falta de se ter o que fazer deitado numa cama? Além de não ser bom é difícil né?
Quando nos encontramos numa situação adversa, onde não há perspectivas como era o meu caso, devemos sim repensar em tudo, em tudo que nós gostamos e não conseguiremos mais fazer, então, como fazer o que eu gosto sentado em cima de uma cadeira de rodas? Se pararmos pra pensar, existem sim mil formas de se readaptar, já pararam pra pensar que a gente nasce sem saber andar, que depois aprendemos a andar de bicicleta e que também quando levamos os vários tombos aprendendo a se equilibrar acabamos que por aprender a se proteger da queda? Então, é preciso aprender novas formas de se brincar, de se fazer seu dia, pense em algo que faça-o valer mais a pena, render mais e mais , não será deitado numa cama que se aprenderá isso, então, é preciso levantar a cabeça se focar no que realmente faria sentido pra você que te leve a sair desse estágio, estude o caso se for preciso frite o crânio, tenho certeza de que você vai encontrar a solução para que seus dias e sua vontade de viver sejam abertas a novas aventuras, novas experiências, um novo tudo. Só assim você verá que o simples fato de não poder andar não estreita seus horizontes e sim alarga pois quando conseguir o primeiro passo com muita luta, pois tudo que é suado é mais gratificante, é ali onde você verá a sua primeira vitória, será sim ela que vai te fazer mais forte pra conseguir muitas outras coisas.
A história de hoje é a seguinte..
Eu certa vez, internado num hospital pra um pré operatório conheci um LM (Lesado medular) cadeirante e tal, seus 40 e poucos anos, ele encontrava-se ali, encravado na cama, cheio de dor, não posso isso não posso aquilo. Bom, acho que foi Deus quem me guiou para que fosse parceiro de quarto dessa pessoa que logo depois veio a se tornar um grande amigo.
O Hélio era totalmente dependente, desde se transferir pra cama até pra se virar de um lado e pro outro precisava de auxilio, não conseguia se vestir sozinho etc... e tal. “poxa!! Eu já me vi nesse estado a muitos anos atrás”, pensei.
Lembro que tudo que eu fazia esse meu amigo me perguntava, mas como? E eu ia explicando pra ele a maneira que eu fazia, era sempre assim. Ele sempre curioso com tudo que eu fazia, mas sempre com a mente negativa de que jamais conseguiria fazer o que eu fazia, e dizia cara, vc é um aleijado como consegue fazer isso?
Passando se o tempo, depois de muitas broncas, muitas discussões entre eu e ele, “brigavamos feio mesmo” o tal amigo já estava se virando na cama sozinho, cheio de dor mas conseguia, até a meia no pé ele já estava calçando sozinho, uiaa, certo tempo depois logo após muitas tentativas começou a se transferir também pra cadeira sozinho e até que um dia aconteceu uma coisa...
Acordamos, tomamos o nosso café como todos os dias, normal, até que a enfermeira chegou e falou que aquele quarto iria demorar pra equipe chegar pra dar banho no pessoal e tal, sabe ne? Então...
Eu peguei a minha cadeira e me dirigi até o banheiro, me joguei pra debaixo do chuveiro, tomei meu banho, molhei toda minha cadeira, uii!! e por fim quando estou ali alguém empurra a porta e entra, é, era o Hélio todo se contorcendo de dor, Cara, consegui, deixa eu tomar meu banho agora, lembro que dei muita risada dele porque a cara de dor dele era tanta, q ele chegava a dar risada da minha cara de espantado kkkk. É, ele havia conseguido.
Lembro que eu e o Hélio conversando a noite num outro dia dentro do hospital, esperando a pizza chegar “escondido” do médico kkk... Conversávamos sobre a sua situação atual, aquele cara totalmente dependente, inimigo da dor que o abatia de um jeito que não o deixava fazer nada, hj estaria sim, reabilitado, fazia suas coisas sozinho, convivia com a sua dor de maneira mais natural, a cabeça dele até se voltou pra modernidade, comprou um celular, passou a se comunicar com os amigos, familiares, enfim, se livrou da cama e passou a ser amigo da cadeira, ia pra todo lugar sozinho, é ele se superou. Agora me responde!?
Imagina você, trancado em cima de uma cama, sendo dependente de deitar e sentar e tantas outras coisas, longe da família, “morando” em um hospital a mais de 4 anos? Então, esse era o Hélio, hj em dia ele mora com os irmãos, a cabeça clareou tanto que se viu novamente pronto pra vida. Agora é ele e a cadeira.
É, as vezes precisamos de um empurrão, de histórias, de ter pessoas que superaram seus limites pra ampliar nossa visão de que podemos sim vencer muitas das barreiras que toma conta da nossa cabeça, a verdade é que devemos clarear isso na mente com determinação e botar elas em pratica, tentar e tentar sempre...
Ah, a palavra que eu falei de inicio que não fazia parte do meu dia a dia era, DETERMINAÇÃO, mas isso é passado, hoje me encontro com ela pregado aqui no fundo do meu pensamento onde é ela quem determina o que eu posso e o que eu não posso fazer e não vai ser uma cadeira que vai me fazer esmorecer, mas, o que eu não puder fazer eu vou tentar e se eu não conseguir, eu tento de novo e a cadeira vai estar junto.