quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Pensando na tal da "deficiência"...


A deficiência, de certa forma, aos olhos dos que nunca tiveram contato com pessoas ditas “especiais”, causa um certo ar de compaixão, de tristeza, como se ali só coubesse sofrimento... será assim mesmo?

Como deficiente que sou, sei bem, até quando me refiro a mim mesmo, ao falar das coisas que podia fazer antes da lesão medular e que não posso mais fazer agora, como andar, por exemplo, deixa mesmo um certo ar de “por que tem que ser assim?”.

Mas isso não quer dizer que em mim só se há lamúrias e lamentações, pelo contrário, quando me levanto todos os dias , me jogando para fora da cama, pegando com os braços, as pernas e levando-as até o chão para subir pra cadeira, e só depois fazer como é de praxe para todo mundo, lavar o rosto, escovar os dentes, preparar meu café , tomar meu banho, eu me vejo sim, com aquela “tal” normalidade. Esse é o meu jeito de levantar, esse é meu jeito de fazer as coisas, não vejo problema nisso. Sou feliz por estar ali, podendo mais um dia me levantar e dar graças a Deus pelo meu novo amanhecer, da minha maneira, na minha normalidade.

O fato é que quando nós deficientes nos esbarramos pensando na tal da deficiência, pensamos no quanto gostaríamos que as demais pessoas, aquelas que não conhecem esse “mundo”, vissem nossa rotina, nossos hábitos e necessidades de maneira mais natural e não pejorativa.

Acho que devemos sim, ao nos depararmos com pessoas que têm suas lutas, dentro ou fora da normalidade (já que o normal para as pessoas é estar aparentemente bem “fisicamente” ou até mesmo com um sorriso fingido no rosto) devemos vê-las olhando pelo lado da superação, da força, da garra por estar ali lutando. Isso sim acrescenta. Isso sim reforça nossa luta e nos devolve algo de bom como pessoa.

A tal da deficiência que eu adquiri, ou que se instalou no meu corpo, ela existe, mas eu me adaptei às novas situações. Hoje faço parte dessa normalidade que me segue todos os dias. Me sinto bem ou mal, mas esse sentimento nada ter a ver com a deficiência, são apenas as coisas da vida. Passamos por altos e baixos, mas isso acontece com todo mundo, não é mesmo?

Então é essa minha normalidade, que me faz conhecer este mundo de diferenças, no qual cabem tudo e todos. É preciso ampliar seus conhecimento e não deixar se levar pelas aparências, pois elas nos cegam, e dentro de você, com seu padrão de normalidade, quando se deparar com pessoas “diferentes” (e você é uma delas), tente pensar que estamos ali pra viver, cada um à sua maneira, cada um com sua peculiaridade, cada um com a sua normalidade.. E viva as difereas!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Respeito é bom... eu quero!


Desde quando era criança, a velocidade me atraia. Cresci assistindo F1, com o Galvão Bueno narrando, e Airton Senna dando seu show de pilotagem (tantantamm, tantantammmm). Esse herói, das manhãs de domingo, já se foi, mas o gosto pela velocidade permaneceu em mim.
Certo dia de final de semana, meu cunhado, ao vir nos fazer uma visita, me deu o sinal de alerta: “Tal dia vai ter corrida de caminhões no autódromo aqui em Curitiba, você quer ir comigo?”. Nem é preciso dizer que o sorriso foi de orelha a orelha e a resposta foi um sim com muita satisfação. No dia da corrida o cunhado passou me pegar e lá fomos nós.
Multidão no autódromo, mas de certa forma, ainda um pouco vazio, pois chegamos cedo para ver os shows que antecedem a corrida. Pedimos ajuda para dois rapazes que estava perto e, subimos até ao meio da arquibancada onde há um degrau mais largo, pra a movimentação da galera. Lugar perfeito para posicionar minha cadeira de rodas e ver toda a reta, os boxes, os shows e toda a movimentação enfim.
A muvuca foi aumentando, quase ñ existiam lugares vagos. Vendedores ambulantes passavam com suas mercadorias, em caixas de isopor, num um vai e vêm intenso. Sempre passavam por traz de minha cadeira, pois eu estava bem junto da beirada do tal degrau na arquibancada. Um ou outro esbarrão é normal, pois nunca se espera dar de cara com alguém sentado no meio do caminho em uma cadeira de rodas, una isso a uma desatenção básica e você terá a famosa “topada” (sempre dói a canela de quem topa comigo... RSS).
9:00 horas da manhã começaram os shows. Muito barulho dos motores, cheiro dos pneus fritando no asfalto, gritos de “ôhhh, uhuuu, aeww” na arquibancada e os vendedores “Olha a água mineral, refrigerante, cerveja, camiseta, boné...”. (só faltou gritar cachorro, periquito, papagaio...rss). Mas, não contentes em passarem com as caixas de isopor, começaram a passar também com aqueles carrinhos de picolé, da Kibom, aqueles azuis que existem nos parques. Adivinha atrás de quem eles passavam? Recorda onde eu estava sentado? Isso mesmo, bem junto à beira do degrau! Que beleza, cada passada de um carrinho daqueles era um gelo na espinha e aquela arregalada de olhos. (ohhh gzuiss, help me... plss)
Colocamos blusas, como calço, nas rodas da cadeira (eu não queria descer rolando a arquibancada), pois várias vezes encostaram nas rodas da minha cadeira e receberam olhares fulminantes e frases de “cuidado aí, tio” veementes de reprovação de minha parte. Eles passavam, eu cutucava o cunhado, ele segurava a cadeira. (meu cunhado, meu herói... RSS).
Foi um dia muito bom apesar dos empurrões, do calor, de ficar um camarão por causa do sol, mas tudo bem... mal passado fica mais saboroso... RSS
Todas as vezes que um cadeirante ou portador de qualquer outra deficiência física, se atreve a ir em um evento público, passa por inúmeras dificuldades e descasos (pessoas em pé em sua frente, esbarrões, falta de lugares reservados para cadeiras de rodas, etc). Seria quase como que se dizer... “você não existe, não está aí”. Opaaaaaa... espere aí... NÓS EXISTIMOS, ESTAMOS AQUI (vocês queiram ou não, essa é a realidade, tratem de aceitar, pois também pagamos ingresso (meia entrada... rss), temos o direito assegurado de ir e vir ( mesmo que seja de muletas, cadeira de rodas ou em uma maca, mas temos). Por favor... NOS RESPEITEM! É o mínimo que os organizadores, de eventos, podem e devem fazer!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Então, foi Natal...


E o que você fez? Qual era a programação? Ceia com a família ou na casa de amigos? Saiu sem rumo na cidade ou ficou em casa assistindo a programação global?
Para mm, seria passar em casa com a família. “Seria, porque”? Sim, seria. Por que uma tal de senhora gripe, que evoluiu para pneumonia, de um dia para o outro, acabou por mudar todas as minhas pretensões quanto ao feriado natalino. Siga o roteiro... RSS
2ª feira, dia 21... começo a tossir...cofff, coofff, cooofff... tranquilo, tomo um antigripal.
3ª feira, dia 22... durante o dia a tosse aumentou, o peito começou a fazer barulho (parecia que tinha um gato dormindo dentro de meu peito... rss). Ainda tranqüilo, antigripal e um xaropinho expectorante. A noite vai caindo, “mas o meu Papai Noel não vem”, só a tosse persiste e eu cansado do tal cofff coofff não parava (porque será que essas coisas só pioram de noite?). Todos saíram, para um compromisso, eu ali deitado em minha cama com a bela sinfonia da tosse. Quase 23 horas e a “marvada” começou a secar e a secreção pulmonar não saia. E eu sem o inalador em casa.
4ª feira, dia 23... meu pai chega em casa, depois do compromisso, era quase 1:30 da manhã, vê meu estado deplorável, me ajuda a expectorar fazendo massagem nas costelas (quase colocava os pulmões pela boca a cada aperto... rss). Chamei mais duas vezes, na terceira já pedi para meu pai se vestir para irmos a uma unidade de saúde 24 hrs, perto de nossa casa. Inalação, soro com remedinho e um antitérmico e a febre não cedeu (enfermeiro, mais uma dose...amigo... rss).
Enfim amanheceu. 8 hrs da manhã, fui de ambulância para um hospital, tirar um raio X. 10 hrs da manhã, chego de novo na unidade de saúde. Diagnóstico, pneumonia, possível H1N1 (gripe suína). Nem deram ouvidos para a argumentação de que peguei a simples “infame gripe” de meu pai. Mascara na cara, um calor medonho. 14 hrs, saio de ambulância para outro centro de saúde 24 hrs, referência no trato da suína. Só que... não informaram que eu era tetra, não me locomovia... resultado dessa desinformação? Devolvo o paciente, porque tem 18 degraus para chegar na área reservada para esse caso (gente, me senti um produto com prazo de validade vencido... buhaaa). Chegou meu pai logo em seguida, eu já avise para o motorista da ambulância que não iria voltar para o posto de saúde. O cara arregalou os olhos e disse: “não, você vai me complicar a vida. Volta comigo e pede para Dra. que atendeu te liberar”. E lá fui eu de novo na ambulância. Chego no posto médico, me colocam em um quarto isolado, tirei a máscara e pedi para falar com Dra. que, lógico, não veio. Quem entrou no quarto foi uma enfermeira, com três injeções de bandeja. Enquanto ela aplicava aquele líquido em minha veia, eu pedi para chamar a Dra porque eu queria ir embora. “Hoje você não vai para casa, vai é para outro hospital!”... foi a resposta dela. (é ou não de chorar pelado?). 17 hras... “lá vou eu de novo... rss”... ambulância, hospital... me aceitaram nesse... aewwwww... RSS
5ª feira, dia 24... véspera de Natal, passei o dia internado, e manda remédio para dentro. Minha irmã foi minha acompanhante nesta noite.
6ª feira, dia 25... (isso está parecendo seriado de TV... RSS), então, era Natal! Ás 10 hrs o Dr. Entra no quarto e me pergunta se estou bem, se dormi bem a noite, se eu quero ir para casa (Nem precisa ser muito esperto para sacar que meu sorriso foi de uma orelha na outra e os olhinhos brilharam... RSS). Vou preencher sua alta, ok? Ok! Cheguei em casa para o almoço.
Nem sempre as coisas que escrevemos, aqui na varanda, são divertidas ou teem um final feliz, mas o que importa em tudo isso é mostrar para você que lê nossas crônicas, como temos encarado todas as coisas, passado pelos perrengues da vida e continuamos nosso caminho. Passamos, de forma até que divertidas para você, momentos e horas difíceis que foram para nós, mas não nos deixamos abater ou paramos nossas vidas. Viva e seja o mais feliz que puder, independente de como esteja!

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Feio ou bonito?

Recentemente varias coisas me fazem questionar o bonito e o feio.

Fazendo minhas leituras diárias, eu me topo com a seguinte manchete:

" Rede social de "pessoas bonitas" expulsa 5.000 por engordar no fim do ano"

Dias após, vejo a manchete:

" Beleza sem tamanho: V Magazine (respeitadissima revista de moda e de grande circulação no mundo inteiro) lança edição toda feita com modelos plus size (modelos gordinhas) que promete entrar para a história.




Contrastantes essas manchetes não é mesmo!?

Tão contrastante como os comentários de muitos vêem casais diferentes, um negro e um branco, um cego e outro não, um cadeirante e um andante, um surdo e outro não, um magro e um gordo, um pequeno outro grande e por ai vai...

Acho que tudo na vida tem um divisor de águas, acho que o meu foi bem no inicio da adolescência qto a esse assunto, lembro que li um caso em uma revista ( na época eu deixava de assinar a revista Capricho para assinar a revista Nova, estava crescendo! RS RS RS RS ), a moça relatava que sempre namorou com caras bonitos e que ela também era bonita e tudo mais, um dia apareceu um moço novo na turma, feio, do qual não chamou nem um pouco atenção dela, mas com o tempo ela foi vendo que o cara legal, educado, prestativo, carinhoso e tudo mais... até q começaram a sair juntos e ficarem, e ela sentia vergonha dele, não queria andar de mãos dadas, nem contato publicamente. Até que um dia ela teve que fazer uma cirurgia odontológica, da qual passou muito mal e ficou com o rosto deformado por conta do inchaço, ela ficou trancada em casa para que ninguém pudesse vê-la, já que a aparência dela estava tão feia, uma vez que o padrão de beleza dela estava por um tempo abalado, pois o moço foi até a casa dela mesmo sendo proibido disso, levou uma sopa (pq ela não podia mastigar), ao chegar la, ela ficou toda sem graça, meio que se escondendo e ele de maneira firme e carinhosa passou a mão no seu rosto e disse: Você esta linda!!

Nesse momento ela se apaixonou por ele, reconheceu o seu valor e sua beleza, depois disso constituíram uma família juntos!

E eu definitivamente mudei minha concepção!

Recentemente estava bem pensativa sobre as atitudes alheias, analisando entendo o que realmente contribui para um padrão, o que realmente importa, será que o físico pode ser importante ao ponto de outro se julgar perfeito (mesmo não sendo nem de longe e muito menos de perto) e se dar o direito de apontar imperfeições ao outro?!?! E estava vendo como as pessoas podem se transformar em feias por atitudes, como as pessoas tem atitudes feias!

Eis que reencontro um velho conhecido digamos assim, uma pessoa que me conhece muito bem ao longo de muito anos, sabe meus defeitos e qualidades, minhas frescuras e por ai vai...

E ao invés de pegar na minha barriga ( que é visível até para uma pessoa com baixíssima visão) e fazer qualquer comentário sobre isso, ele acariciou minha perna e disse: Nossa, que perna lisinha, macia, gostosa!

Nesse momento me lembrei o quanto é bom ser bem tratada, o quanto é importante reconhecer a beleza do outro, o quanto as pessoas se fazem bonitas mais e mais e mais!

Isso me deu um estalo na memória e me lembrei de muitas atitudes que seriam capaz de fazer o Shrek virar o Brad Pitt!

Uma pessoa muito especial certa vez... estava saindo de viagem, uma viagem rápida, e ao conversar comigo via MSN, eu falei que estava chata, de TPM, ainda por cima não ia ter ninguém, nada para fazer e por ai vai...

Em 10 minutos eu recebo uma msg no celular “ olhe sua caixa de correio”, e la achei um bilhete em um papel de rascunho com poucas palavras carinhosas, um chocolate para TPM, um filme (DVD), para ter o que fazer!

Ele se fez ou não o cara mais lindo do mundo!?!?!

Agora vendo a novela Viver a Vida, a Luciana, que é uma tetraplégica é rodeada por 2 “amores”, Jorge (namorado oficial) e Miguel (nada oficial), gêmeos idênticos (feitos pelo mesmo ator), e fisicamente perfeitos, lindos, cultos, viajados e todas essas coisas que o Manuel Carlos faz como ninguém o nível dos personagens!

Contraste é, o Jorge, não aceita a condição da sua namorada, cheio de preconceito, tem vergonha dela, não procurou entender a deficiência adquirida por ela, acha que ela não pode nada, não vê perspectiva de futuro para uma pessoa com tetraplegia, vive um mundinho restrito, cheio de seriedade, concepções ignorantes, posse, ciúmes, com beijinhos frios, falta de abraço, calor humano e assim segue!

E o Miguel.... aaahh... o Miguel! Ele é aquele cara lindo, que é duro quando tem que ser, é carinhoso, afável, manda bola pra frente diante as dificuldades, é companheiro, amoroso, bem humorado, é válvula propulsora para superação, não se deixa limitar, valoriza a beleza alheia, sabe o valor das pessoas, beija e abraça calorosamente, tem contato físico dos mais singelos possíveis so para dizer: Estou aqui! e assim segue da maneiras mais inspiradora e amorosa possível!

Então eu pergunto...

Mesmo sendo o mesmo fisicamente, quem é o bonito e quem é o feio!?

O mundo é tão cheio de belezas frágeis, dê uma chance para aquela pessoa meio diferente do que você está acostumado e você pode ter uma boa surpresa!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

CONSTRUINDO PONTES


Certa vez, li em um post que: “Namorada de deficiente físico, tem que ser guerreira”. Agora você imagine, como deve ser a namorada de um tetra??? No mínimo uma Mulher Maravilha, não é?! Não quero plagiar ninguém, mas COMO DAMOS TRABALHO... (ôhh Pai Eterno, acode essas meninas).
Sempre que saio com a amada, um conhecido, ou uma amiga (o), rola aquele stress básico de saber se teremos ajuda para me desembarcar e embarcar na chimbica, me posicionar na cadeira, e haja força para vencer meus espasmos. É um tal de estica e puxa... e viva a turma da X..... (opss, qse).
Foi visando evitar esses perrengues que peguei minha amada (to xonado gente, aiaiii), e fomos treinar transferência (da cadeira para o carro e vice versa). Dei as coordenadas, me mantive calmiiiinho e... foi... GOLLLLL... DE PRIMEIRA me colocou sentadinho no banco da ximbica (essa menina é meu orgulho). Masss... como a vida é uma caixinha de surpresas... rss... fomos fazer o caminho inverso (ximbica para a cadeira). Não é de se admirar que algo teria que sair errado. Vejam como foi esse perrengue através do relato dela...
Viemos pra minha casa... e eu toda corajosa, achando que dava conta do recado, (sempre acho que vou dar conta...) verificação total, lenço de RAMBO na cabeça, primeiro - dobrando as pernas... - sim senhor, - bolsa coletora ...- ok, - verificação da trava... certinho (quando aquela trava abre... ai que saco!... com a água... ninguém pode (xixi..)) depois de tanto parêntesis... que mais? ahhhh – cadeira na posição? Sim – freio na cadeira? Sim... ta tudo certo... abraça o home... posiciona, tira do carro e quando menos esperávamos antes que o cinto pudesse ser apertado... (eita dificuldade de colocar o fecho do cinto na trava... entra num buraco que nunca é o do cinto!!!) ...calma já conto....
Local calmo onde eu moro, mas aquela noite teimava em estar mais calmo que todas as noites, tipo sabe noite de feriado de carnaval em Curitiba??? Não sabe... pior que praia no inverno... nenhuma viva alma passava na rua...
O home... affff.... espasmo!!!... quem segura?... segura namorada!... vai que é tua!!!... da sola dos pés até a tórax TUDO DURO....(hehehe... calma lá, sem malicia...)... como uma tábua... (eu digo meu namorado é tão sensível que no mínimo toque já fica duro.... (eita... o que eu quero mais com a vida...rsss) .. eu suando e não podia fazer mais nada além de pedir desculpas e querer que alguém passasse,....
Eureka!!!! Chama o guarda da rua... o dito cujo tinha acabado de fazer a ronda e nem percebeu o movimento. Se fosse um ladrão, teria nos levado e a cadeira junto... afff... o prejuízo maior seria a cadeira, já que o ladrão não ia ficar com a gente...rsss
Eureka novamente ... o pneu do carro... ajustamos a cadeira de tal forma, entre a parede e o pneu do carro que, a roda do carro servia como apoio para os pés e deixava estabilizado, sem escorregar (na pior das hipóteses, deitaria ele no chão para ñ cair... rss). foi tudo de bom... cadeira... pneu... parede... tudo estrategicamente alinhado... o que seria da vida sem Arquimedes, Tales e esses homens que nos ajudaram a aprender ângulos. Quem disse que não serve pra nada????!!!!
Fim das contas... depois de muito abraço... já que não tinha o que fazer... e não amolecia o quadril mesmo... e eu não tinha força pra dobrar... quer dizer força eu tinha!!! Só não tinha um braço biônico, tipo mulher elástico... risos... chegou o guarda e foi hiper atencioso, como sempre aparece alguém pra ajudar... rendeu boas risadas, no final, e melhor de tudo... agora to mais craque... ehhehehe
O lenço do Rambo não foi a toa ... serviu pra secar nosso suor... e ficou encharcado... risos...
Mesmo que a vida esteja dura, ou as situações estejam difíceis de passar, muito suor no corpo e muitas dúvidas sobre o que fazer? Vamos dar bons abraços e dar tempo ao tempo...!
É super importante, para as pessoas que saem conosco (os cuidadores) saberem como e quando nos ajudarem. É mais importante ainda para quem tem uma deficiência física, ter paciência e saber ensinar. Não adianta sair dando berros e coices, em quem quer ajudar, pois assim só vai conseguir que se distanciem mais ainda. Aí não adianta jogar a culpa no preconceito, que foi excluído por ser deficiente, quando na verdade foi por ter sido grosseiro.
Seja gentil e sorria. Não construa muros ao seu redor, mas sim pontes. Atraia as pessoas para junto de si, com seu carisma!
Ahhh... um detalhe muito legal. Algumas semanas depois do ocorrido, esse mesmo guarda estava passando e viu que estávamos na garagem, na mesma movimentação, parou de imediato e se ofereceu para ajudar, mas desta vez eu já estava posicionado. Agradecemos e ele prosseguiu a ronda!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Vivendo a vida com determinação.


Existia uma palavra que não fazia parte do meu dia a dia. Vou contar pra vocês.

É, quando se adquire a deficiência num acidente ou algo do gênero, a gente se entrega de tal maneira que fechamos nossos olhos e assim deixamos de enxergar que existe sim uma nova maneira de se viver a vida, que os novos obstáculos que estão ali devido a deficiência são pra ser passados por cima com cadeira e tudo sabe? A gente acha que por não poder andar não podemos ser felizes, será? Infelizmente perdi anos da minha vida pensando assim também.

O fato é que tudo isso toma a cabeça da gente de uma maneira tão negativa que nos deixamos levar, perdemos muito tempo, achando isso ou aquilo, enfim, deixamos de viver conforme o novo programa, Poxa! Agora sou eu e mais uma cadeira, alguns movimentos perdidos, sem isso sem aquilo, mas, como viver dessa maneira? Eu como muitos deficientes adquiri este estágio emocional negativo, soma isso também a falta de se ter o que fazer deitado numa cama? Além de não ser bom é difícil né?

Quando nos encontramos numa situação adversa, onde não há perspectivas como era o meu caso, devemos sim repensar em tudo, em tudo que nós gostamos e não conseguiremos mais fazer, então, como fazer o que eu gosto sentado em cima de uma cadeira de rodas? Se pararmos pra pensar, existem sim mil formas de se readaptar, já pararam pra pensar que a gente nasce sem saber andar, que depois aprendemos a andar de bicicleta e que também quando levamos os vários tombos aprendendo a se equilibrar acabamos que por aprender a se proteger da queda? Então, é preciso aprender novas formas de se brincar, de se fazer seu dia, pense em algo que faça-o valer mais a pena, render mais e mais , não será deitado numa cama que se aprenderá isso, então, é preciso levantar a cabeça se focar no que realmente faria sentido pra você que te leve a sair desse estágio, estude o caso se for preciso frite o crânio, tenho certeza de que você vai encontrar a solução para que seus dias e sua vontade de viver sejam abertas a novas aventuras, novas experiências, um novo tudo. Só assim você verá que o simples fato de não poder andar não estreita seus horizontes e sim alarga pois quando conseguir o primeiro passo com muita luta, pois tudo que é suado é mais gratificante, é ali onde você verá a sua primeira vitória, será sim ela que vai te fazer mais forte pra conseguir muitas outras coisas.

A história de hoje é a seguinte..

Eu certa vez, internado num hospital pra um pré operatório conheci um LM (Lesado medular) cadeirante e tal, seus 40 e poucos anos, ele encontrava-se ali, encravado na cama, cheio de dor, não posso isso não posso aquilo. Bom, acho que foi Deus quem me guiou para que fosse parceiro de quarto dessa pessoa que logo depois veio a se tornar um grande amigo.

O Hélio era totalmente dependente, desde se transferir pra cama até pra se virar de um lado e pro outro precisava de auxilio, não conseguia se vestir sozinho etc... e tal. “poxa!! Eu já me vi nesse estado a muitos anos atrás”, pensei.

Lembro que tudo que eu fazia esse meu amigo me perguntava, mas como? E eu ia explicando pra ele a maneira que eu fazia, era sempre assim. Ele sempre curioso com tudo que eu fazia, mas sempre com a mente negativa de que jamais conseguiria fazer o que eu fazia, e dizia cara, vc é um aleijado como consegue fazer isso?

Passando se o tempo, depois de muitas broncas, muitas discussões entre eu e ele, “brigavamos feio mesmo” o tal amigo já estava se virando na cama sozinho, cheio de dor mas conseguia, até a meia no pé ele já estava calçando sozinho, uiaa, certo tempo depois logo após muitas tentativas começou a se transferir também pra cadeira sozinho e até que um dia aconteceu uma coisa...

Acordamos, tomamos o nosso café como todos os dias, normal, até que a enfermeira chegou e falou que aquele quarto iria demorar pra equipe chegar pra dar banho no pessoal e tal, sabe ne? Então...

Eu peguei a minha cadeira e me dirigi até o banheiro, me joguei pra debaixo do chuveiro, tomei meu banho, molhei toda minha cadeira, uii!! e por fim quando estou ali alguém empurra a porta e entra, é, era o Hélio todo se contorcendo de dor, Cara, consegui, deixa eu tomar meu banho agora, lembro que dei muita risada dele porque a cara de dor dele era tanta, q ele chegava a dar risada da minha cara de espantado kkkk. É, ele havia conseguido.

Lembro que eu e o Hélio conversando a noite num outro dia dentro do hospital, esperando a pizza chegar “escondido” do médico kkk... Conversávamos sobre a sua situação atual, aquele cara totalmente dependente, inimigo da dor que o abatia de um jeito que não o deixava fazer nada, hj estaria sim, reabilitado, fazia suas coisas sozinho, convivia com a sua dor de maneira mais natural, a cabeça dele até se voltou pra modernidade, comprou um celular, passou a se comunicar com os amigos, familiares, enfim, se livrou da cama e passou a ser amigo da cadeira, ia pra todo lugar sozinho, é ele se superou. Agora me responde!?

Imagina você, trancado em cima de uma cama, sendo dependente de deitar e sentar e tantas outras coisas, longe da família, “morando” em um hospital a mais de 4 anos? Então, esse era o Hélio, hj em dia ele mora com os irmãos, a cabeça clareou tanto que se viu novamente pronto pra vida. Agora é ele e a cadeira.

É, as vezes precisamos de um empurrão, de histórias, de ter pessoas que superaram seus limites pra ampliar nossa visão de que podemos sim vencer muitas das barreiras que toma conta da nossa cabeça, a verdade é que devemos clarear isso na mente com determinação e botar elas em pratica, tentar e tentar sempre...

Ah, a palavra que eu falei de inicio que não fazia parte do meu dia a dia era, DETERMINAÇÃO, mas isso é passado, hoje me encontro com ela pregado aqui no fundo do meu pensamento onde é ela quem determina o que eu posso e o que eu não posso fazer e não vai ser uma cadeira que vai me fazer esmorecer, mas, o que eu não puder fazer eu vou tentar e se eu não conseguir, eu tento de novo e a cadeira vai estar junto.