terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Filha do carnaval

Nascida em Novembro, parto sem complicações, olhos vivos , cabelos pretos, rosadinha, gordinha com peso e altura como manda o figurino. Foi quando passei a fazer parte dessa vida doida em que vivemos. Aos cinco anos, tive uma paralisia súbita, conhecida como mielite transversa. Nunca descobriram a causa exata... provavelmente um vírus atrapalhou o meu sistema imune, que se confundiu, e atacou a minha medula. Imaginem o que é ver uma menina de 5 anos, com uma vida pela frente, parar de andar de repetente. Pânico total!!!
Foram meses de internação, equipe com os melhores profissionais, fisioterapia todos os dias, psicóloga, neurologistas...Depois de 6 meses, período em que pode haver regressão ou progressão da lesão, meu quadro clínico permaneceu inalterado. Estava firmado o diagnóstico: paraplegia completa! Agora era trabalhar pra se adaptar às novas situações.
Desde então levei uma vida como a de qualquer outra criança, com algumas adaptações, é claro. Com mais 3 irmãs, tive a mesma criação que a delas. Estudos, passeios, castigos, festas, brincadeiras...Sempre levei uma vida normal, apesar das críticas das pessoas. Àquela época, no nordeste, era mais fácil deixar um deficiente em casa do que lutar para inseri-lo na sociedade. Devo isso aos meus pais, e com certeza eles também não se arrependeram. Continuo proporcionando orgulho e alegria a eles, as mesmas ou até maiores do que as que esperavam quando me viram nascer.
Sempre quis ser médica e continuei com essa ideia na cabeça. Terminado os estudos, resolvi seguir meu sonho. Passei no vestibular ao fim do terceiro ano. Até ai tudo é festa , né? Maaas, justamente por ter ficado muito tempo sentada para estudar, desenvolvi uma escara, ou úlcera de pressão. Pediram para que eu trancasse a faculdade pois não podia ficar sentada até que essa feridinha cicatrizasse. Relutante a isso, a solução foi assistir às aulas deitada. E assim foram os dois primeiros anos da faculdade. Levava o colchão e um lençol para as aulas. Alguns outros locais , como o laboratório de anatomia, já tinham macas para mim. Depois de 2 anos a escara fechou por completo, sem cirurgia ( coisa rara!!) e foi quando voltei a sentar. Agora com cuidado redobrado pra não passar por tudo isso de novo.
Foram 6 anos de faculdade, sem atraso, formei com a turma inicial. Hoje estou fazendo minhas especializações e trabalhando ( muuuuito). Algumas pessoas não acreditam quando se deparam com uma médica cadeirante. Depois percebem que é possível exercer meu trabalho de forma plena, basta ter força de vontade e se adaptar às diversas situações ( brasileiro sempre dá um jeito pra tudo!). Poderia ter feito direito, letras, engenharia, ser modelo.... mas alguns desejos não tem como mudar. E sem dúvidas, vale a pena se esforçar pra alcançá-los.

E a cadeira?? Ah, ela é vermelha, viu. Combina comigo e me deixa ainda mais bonita. O que o fato de andar mudaria na minha vida? Sou uma pessoa feliz, realizada, estudo, trabalho, viajo, namoro, brigo, fico feliz, triste... como qualquer outra pessoa. Nunca deixei de fazer o que eu queria por não poder andar.... pode ser que demore mais, que seja mais difícil, mas eu faço! E a satisfação é inexplicável. Acredito que devemos viver o presente de forma plena , ao invés de viver esperando por um futuro incerto, que pode vir ou não a acontecer enquanto a vida vai passando.
E uma das minhas marcas é o sorriso no rosto. Por quê? Porque sou feliz com tudo que tenho. Definitivamente, sou filha do Carnaval, época de alegria que já vem marcada em nosso calendário. E é essa alegria que me acompanha pela vida toda....




sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Convite super especial, vamos nessa?


Salve, salve galerinha do bem, o meu post de hoje será pra ajudar a divulgar o Projeto da ONG da Dri aqui em São Paulo.
Se voce souber de algum Def., voluntários que queiram participar das atividades dessa nova ONG que está pra iniciar as atividades, entre em contato, vai ser bem legal, e aí nos veremos por lá também..

Forte abraço, e segue o convite...

Att.

Adriano Almeida
________________

Convidamos todos os nossos amigos e interessados, para uma Manhã de ATITUDE no Parque.

Dia 20/02/2010 - Sábado
Das 9h30 às 12h30

Parque Villa Lobos - Av. Prof. Fonseca Rodrigues, 1655 - Alto de Pinheiros

Programação:

- Apresentação do projeto Voltado para as Pessoas com deficiência física de todas as idades
- Preenchimento da ficha de inscrição
- Atividades Lúdicas para as crianças
- Atividade física para os adultos

Contamos com a presença e participação de todos
Não esqueça o protetor solar, boné e um lanchinho.

(Para quem nao consegue visualizar o mapinha no album de fotos)

- O Local do encontro será no E (Esplanada), mais precisamente em uma das quadras society daquele local.

http://atitudeparadesportiva.blogspot.com/

E-mail: atitudeparadesportiva@gmail.com

Tel. (11) 5083-1299 / (11) 7286-1655

PS: Pra quem quiser também interagir com a ONG no Orkut, segue alguns links...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Kamikazi – O Desafio


Á algum tempo atrás eu teclava com uma amiga sobre um desejo meu, andar de Montanha Russa. Para minha surpresa a garota também gosta de ser arrojada, mas como quase todos sabem os parques de diversões não permitem que pessoas, com um comprometimento físico maior, embarquem em determinados brinquedos, já estávamos pensando na hipótese de abrir um sem restrições... rss.
O fato é que se, o indivíduo não pode se segurar, mantendo a estabilidade corporal no brinquedo, nem adianta chorar para quebrantar o coração do tiozinho que está controlando o embarque da bagaça. A primeira coisa que você verá nesses parques, junto a alguns brinquedos, será a placa de que é “restrito para portadores de deficiência física” como vocês podem notar no site do Beto Carreiro, nas perguntas mais freqüentes está a seguinte informação:

"Alguns brinquedos possuem restrição de idade e altura ou exigem acompanhamento de um adulto. Há atrações restritas a gestantes, cardíacos e deficientes. As restrições são informadas através de placas de sinalização e através de monitores nas atrações. Toda precaução necessária para oferecer segurança aos nossos visitantes".

E aí? O que fazer nessa hora? Óhhh, vou dar uma volta radical no trenzinho em forma de centopéia ou vou ser mais arrojado e aloprar no carrocel? (definitivamente broxante)

Apesar de alegarem ser para a segurança do estrupiado, nenhuma alegação irá curar esse trauma de não poder realizar meu sonho (pura manha). Garanto que há muitos que também gostariam de radicalizar um pouco e fazer correr adrenalina nas veias, só para sair da rotina.. rss
Em um post anterior eu descrevi para vocês como foi meu dia em um parque aquático. Desta vez, resolvi fazer valer o apelido de Kamikaze, dado por um amigo meu, e pirei geral. Fomos em um outro parque aquático, perto aqui de Curitiba, que possui um tobogan de 25 metros de queda. Vocês saberiam o nome desse bagulho? Exato, “Kamikazi” tbm!
O bom desse parque é que tem uma acessibilidade ótima, os funcionário simpáticoas e colaboradores ajudam no que for necessário. Rampas te dão acesso a todos os lugares (piscinas, restaurante, banheiros adaptados), inclusive ao topo desse tobogan... “SEM RESTRIÇÃO PARA DEFICIENTES FÍSICOS”. Aeeeeee
Falei com o salva vidas se eu poderia descer e se ele me pegaria ao chegar. Ele sorriu e deu o “OK”. Começamos a subir, um moço se ofereceu para ajudar na escalada. Quando cheguei no ponto da descida perguntaram, meio descrentes, se eu iria descer. A resposta foi um “SIM”, seguido de um sorriso largo. Consegui ver vários sorrisos se abrindo e um murmurinho se ouvia: “o cara vai descer”. Pedi para avisarem o salva vidas que eu ia descer, me colocaram na posição e...(já sabem o tamanho dos olhos arregalados). Então, ficou Kamikazi (eu) X Kamikazi (tobogan)
Confira no vídeo como foi a descida e o resgate... rsss

Link do vídeo no you tube...
www.youtube.com/watch?v=OxrwHqHNU_0

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Um ninho para amar



Já ouviram falar que bobeira de hoje historia de amanhã?!?!
Pois é eu coleciono incontáveis dessas, mas algumas delas seria quase uma heresia não contar!
La vai...

Estávamos la na cidade de céu azul de nuvens doidas, depois de uma “baladinha” ótima, e esgotadas as possibilidades da noite, eis que surge uma idéia :
- Meu amigo falou que tem um motel que chama... chama... chama.... tempos depois e por dedução descobrimos o nome! (ele)
- Sei chegar la, então beleza! (eu)
Sendo que esse é famoso tem até coelhinhos da Playboy ( categoria dos motéis).
- IIIIhhhhh, só tem um probleminha, será que é acessível? (acessibilidade é sempre uma questão importantíssima para deficientes físicos ou pessoas com mobilidade reduzida).
Comentei com UMA amiga, e em 2 minutos TODAS já me cercaram com uma idéia brilhante:
- Vamos chegar em casa pegar o telefone na net e ligar lá para saber, enquanto isso você vai devagar a caminho do mesmo!
Por isso eu sempre digo, quem tem amigos tem tudo, te ajudam sempre até no que nunca pensávamos que precisaríamos! Kkkkkkkk
Minutos depois a esperada ligação:
- Então, ligamos la, é acessível, tem vaga, tudo certo!
O que escutei depois dessa frase é impublicavel! Rsrsrsrs
La vamos nós...



Chegando la, pergunto ao interfone, qual suíte acessível eles dispõem.
A voz do interfone diz: -TODAS as nossas suítes são acessíveis!
Fizemos nossa escolha e “bora la” procurar a danada...
No caminho... o “mocinho”, já foi me falando:
Su, a porta é muito estreita! (foi observando as portas das suítes que estavam com a garagem aberta).
Su, a porta é muito estreita você não acha?!
E eu tralalala tralalala, nem dando atenção achando que estava se referindo ao tamanho da garagem, sugerindo que eu não daria conta de estacionar. (por mais que a mulher dirija bem eles nunca conseguem admitir isso).
Quanto chegamos finalmente na nossa suíte.
Escuto uma entonação grave : Suuuuuuuuuuuuuuuu a porta é muito estreita, acho que a cadeira não passa!!!
Putz... era essa porta que vc estava falando?!kkkkkkkkkkkk




IIIhh... primeiro itém brochante!
Testamos, passar até que passou, mas se uma pulga quisesse junto seria impossível!

Entro dentro do quarto para pegar um banquinho para puxar o toldo da garagem, por que a altura de banquinho de bater sola não me permite fazer isso sem esse “acessório”. Estou la dependurada no toldo e naaaaaaaaaaada dele descer! Então pego meu banquinho e saio de mansinho para dentro do quarto, pego o telefone e falo para moça:
Nosso toldo esta com problemas, você poderia mandar um funcionário para ver isso?
Ela responde: A senhora tentou o botão na parede da garagem?
Pensei eu, BOTÃO, QUE BOTÃO?
Então saio novamente e me deparo com uma coisa assim:



Dos males o menor, antes o mico via telefone, do que imagiiiiiiina se alguém passa la justamente quando estou ridiculamente dependurada no toldo!?!? Kkkkkkkkkkkkkkk

Não poderia deixar de falar sobre a acessibilidade do recinto, já que TODAS as suítes são adaptadas!

Alem da porta estreita, ainda tinha cama redonda (é legal, mas incompatível com cadeirantes, maiores detalhes aqui), o banheiro porta estreita como a da entrada, ou seja entrar até que entrava, mas virar lá dentro sem chances, usar o chuveiro piorou, um box minuuuusculo, chegar no sanitário so se derrubasse a parede, na “copa” para chegar até o frigobar, só se desmontasse a mesa!
Sacaram a acessibilidade do local?!!?
Mas vivendo e aprendendo, quando disserem que a suíte é acessível, vale questionar, é acessível ou sem degraus? Existe uma diferença bem grande entre uma coisa e outra nesse caso!
Mas claro que como somos brasileiros e não desistimos nunca, nada disso impediu que ficássemos por la uma bagatela de 10 horas! Acho que é um tantinho bom, né?!!? Mas é que temos muuito sono! Kkkkkkk
Talvez isso respondesse alguns questionamentos quanto a sexualidade! (ainda vou falar sobre isso com mais detalhes).
Fora que eu tenho uma técnica quase infalível para matar o mocinho do coração, essa eu uso quase todas as vezes, mas ele sempre cai! Ahahahhahaha
É simples... nunca me lembro da cadeira, ela é sempre uma mera coadjuvante (ainda bem que ela não fala,né?!), sendo assim para não incomodar o mocinho evito de acender a luz, fazer barulhos, coisas triviais, mas sempre quebro o “pacto” de silencio quando me arrebento na cadeira e ele quase morre de sustos, sempre falo para mim mesma, da próxima vez acendo a luz, pelo ao menos economizo o coração do mocinho para outras emoções, digamos... mais fortes e claro, seria um hematoma a menos na minha canela!
Continuando a saga...
Reunimos as forças que nos restaram para ir embora, quando chegamos na saída....
Afff esquecemos de pedir a conta! Tumultuamos a fila inteira, para sair dela voltar no quarto pedir a conta e ir embora!! Claro, so pra fechar a coleção de micos do episódio! (kkkk)
No fritar dos ovos tudo é muito simples, por mais que a situação não pareça favorável, o que vale é dar risada, nem que seja de si mesmo!


OBS: O post aborda questões muito serias como acessibilidade, sexualidade, mas é que eu não poderia começar a contar sobre um “mundo” novo pra mim, assim de maneira tão seria, não combina comigo!

Este post foi publicado originalmente no blog da autora Segunda Pele

As imagens são do google e do getty imagens